terça-feira, 30 de março de 2010


Preciso, para (Marina Colasanti)

Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.

Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa lilás.
- Que ousadia, uma bolsa lilás- sorriu ela.
- Acabei de dizer a um homem que o amo- respondeu a outra. - Então entrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos a minha audácia.
Não sorriu. Agarrou-se náufraga na alça."
(Marina Colasanti)

quarta-feira, 17 de março de 2010

.Que voam.



- As vezes acho que dentro de você não existe essas coisas orgânicas...
eh orgânica?pode ser...imagino livros,morangos, penas, cores,plumas,doces, sushis,camarões,pizza,um lugar reluzente...somos muito vivos e racionais pra ter por dentro coisas que apodrecem.

sábado, 13 de março de 2010

Pois é Senhor Viconde.


"A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. [...] A vida da gente neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia.

Pisca e mama;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim pisca pela última vez e morre.
*- E depois que morre? - perguntou o Visconde.


- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é? "


(Monteiro Lobato- Memórias da Emília)

terça-feira, 9 de março de 2010

Isso é papel João?


Isso é papel João?
Papel que se faça João?
Com essa caristia João?
Jogar meu dinheiro no chão
Olha pros neguinhos, João
Barriga vazia, João
De corpo pelado, calcinha surrada, pézinho no chão

Eu levanto ás 5 horas, João vira pro outro lado
João tá sempre durmindo, João tá sempre cansado
Ai meu São Benedito, eu peço de coração
Fale com Nossa Senhora pra trocar o anjo do meu nêgo João

Lesco-Lesco noite e dia, converso quase na água
Entre pingos e respingos vou batendo a minha mágoa
Eu lavo roupa pra fora, enxaguando, enfrentando o sabão
Mas meus olhos enche de lágrimas
Quando lavo a roupa do meu nêgo João!

Elsa Soares

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ofuscante nulo.


Creio já haver escrito em minhas notas que o amor se assemelha muito a uma tortura ou a uma operação cirúrgica. Mas esta idéia pode ser desenvolvida de maneira mais amarga. Mesmo que os dois amantes estejam muito apaixonados e muito cheios de desejos recíprocos, sempre um dos dois será mais calmo, ou menos possesso, do que o outro. Aquele ou aquela é o operador ou o carrasco; o outro é o paciente, a vítima. (Trad. de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira) (BAUDELAIRE, 1985, p.603).

Lucas e Lucius


“estou inteiro úmido de cólera porque vi que os teus olhos olharam o muito [...] viril atravessando a rua e que o teu olhar foi de cumplicidade e de desejo e que os traços de teu rosto [...] são vincos pesados e solenes [...] de um reles prostituto.”

(Rutilo Nada ; HILDA HILST, 2003, p.94).

Esqueleto.


Que o Nada conosco é falsário; Que tudo, a morte até, nos mente, Que desde sempre e eternamente Talvez nos seja necessário.
Charles Baudelaire, O esqueleto lavrador (BAUDELAIRE, 1985, p.349).

segunda-feira, 1 de março de 2010

.Entrega.


Não tenho segredos ; não vejo o por que ter segredos ; se o meu pensamento divulga a todo minuto o que eu sei ; não quero enganar você ; não quero me enganar ; se a vida é sentir ; então vamos nos libertar ; quero que você seja o seu melhor ; quero que você seja o seu sonho ; quero que você faça aquilo que adimira nos outros; desejo que você plagie o que há de melhor; mesmo que seja o melhor da idiotice ; mesmo que seja a melhor das igenuidades ; sejamos felizes ; sejamos o que há de bom ; sejamos vida...(tomei a liberdade.. que vc dá..é agente que fez!)

Dono do sol.


Os sinais, os carros e os
desconhecidos sao meus parentes,
e meus amores e amigos minha familia...
no meu mundo de sol e lua o
meu lar é uma avenida!